Por: Everton M. de Carvalho
Desde que começaram as notícias acerca desse vírus (até então
desconhecido) a comunidade científica se debruçou sobre ele a fim de entender
como ele age e como prevenir infecções ou remediar aqueles que forem
infectados. Diante do desconhecimento muitos que se dizem formadores de opinião
deram total descrédito, a ponto de tal enfermidade se espalhar pelo globo. O
fato mais intrigante é que depois de estabelecidos protocolos de prevenção,
diante da necessidade de evitar contágios, pois ainda não se sabe como remediar
os já contagiados muitos ignoraram tais alertas e usaram de protagonismo
político para justificar sua concepção pré-metódica para lidar com tal
situação.
E o que isso tem a ver com o
Corona-Vírus? Aparentemente seria um anacronismo fazer tal associação, mas se
todo aquele que se debruçar sobre os fatos não notará diferenças sensíveis
entre o que algumas lideranças político-religiosas fazem atualmente e o que o
Santo Ofício fazia entre os séculos XIV e XVII. A ciência tal qual conhecemos
foi por muito tempo a maior inimiga do sistema político religioso. Tal
inimizade começa quando a ordem dos fatos passa a ser questionada, quando
alguém ousa se perguntar o porquê das coisas e se liberta das amarras
teocráticas e passa a buscar ou propor explicações plausíveis para tal. Essa busca
então desencadeia um conhecimento livre, independente das vontades e objetivos
do sistema político-religioso.
E por que isso se torna perigoso?
Porque o sistema político-religioso passa a combater o discurso científico de
frente, uma vez que o conhecimento científico liberta os indivíduos das amarras
de tal sistema. Desse modo tudo aquilo que a ciência prega deve ser refutado
por esse sistema, a fim de manter consolidada a sua doutrina. A ciência em
momento algum desmerece a religião, mas essa não pode permitir aos seus uma
crença diferente daquela estabelecida no medium aevum. Pois o
“novo” é uma ameaça, a liberdade de pensamento é uma ameaça para um sistema
fundamentado na doutrina, na privação do livre pensar, na adestração do agir.
E por que intitula-se o presente texto
de “Um vírus mais perigoso que o Corona”? Porque se trata do mais nocivo dos
vírus capazes de infectar um ser humano. É o vírus da Irracionalidade, ou em um
termo mais enfático, da Burrice. Esse vírus remonta aos tempos da Peste Negra,
pois é o vírus da negação à ciência, da crença fidedigna na palavra de um líder
político ou religioso ao qual não se questiona a veracidade de seus discursos,
a final são autoridades divinamente instituídas. Mas são autoridades que
precisam de súditos com a capacidade de raciocínio, de discernimento limitadas
para que se perpetuem no poder, pois àqueles que ousam questionar-se acerca da
ordem vigente devem caber a ojeriza, ou a fogueira.
E enquanto a ciência se debruça de modo
a propor medidas de tornar as mazelas que atingem constantemente a humanidade,
estes veem nesse combate uma ameaça, principalmente ao seu domínio, à vigência
de sua doutrina. Por isso o vírus da burrice é mais perigoso que o Corona, pois
não há como combater, pois o contágio se dá de maneira voluntária, e o
contagiado não se reconhece como tal e rejeita qualquer ajuda, preferindo
sucumbir numa mentalidade medieval do que permitir-se compartilhar o alvorecer
da era das luzes.
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